No famoso
Aurélio, “vadiar” nada mais é do que “vaguear, levar a vida
de vadio; vagabundear”. Um sujeito vadio, no mesmo dicionario, é
“aquele que não faz nada; ocioso” ou ainda “um aluno pouco
estudioso”. E vadia? Essa eu não encontrei no Aurélio, mas em um
dicionario informal da web, o termo vadia é “geralmente utilizado
para referenciar alguma mulher biscate, que gosta de chamar a atenção
dos machos.” E talvez por essa denominação popular é que se
tenha criado tanta polemica em torno da Marcha das Vadias, que se
iniciou no Canadá em 2011, após um policial afirmar que, se as
mulheres não quisessem ser estupradas, não deveriam se vestir como
“vadias”. Desde então, a marcha se espalhou pelo mundo e enfim
chegou a Aracaju.
Será que uma mulher com roupas mais curtas teria menos direitos do que uma supostamente mais “composta”? Uma mulher pode ser violentada por levar uma vida supostamente 'vadia'? E o que é ser vadia, nos dias de hoje? Mesmo com tantos casos de violência sofridos por mulheres dentro e fora de casa, é possível que ainda exista uma distinção entre mulheres de “casa” e da “rua”?
Contrariando
esse tipo de argumento falso-moralista,
uma das palavras de ordem na maioria das Marchas das Vadias é “Minha
roupa não é convite”. Apesar da inspiração ter nascido no
Canadá, aqui no Brasil temos um terrível histórico de violência
contra mulheres e sua suposta 'vadiagem'. Quem não se lembra do caso
Geisy Arruda, a estudante que foi obrigada a sair da faculdade
escoltada pela policia? O crime: usar um vestido curto. Outro caso
público, mais chocante ainda, aconteceu há menos tempo, em
Queimadas- PB , onde 6 mulheres foram estupradas (duas delas mortas),
sendo que os estupros seriam “presentes de aniversário” de um
irmão para outro.
Mas
a violência contra a mulher não pode ser considerada apenas no seu
aspecto físico, mas também no lado psicológico.
Em matéria para a revista TPM (Trip para Mulheres) de julho do ano
passado, a publicitária Viviane Favery, 25 anos, dizia: “Acho
invasivo aquele olhar de cão faminto que os homens dirigem a você.
Não sou uma amostra grátis” .
Aceitar
com normalidade a violência, seja ela verbal, psicológica ou física
para com uma mulher, porque supostamente ela “deu condições”, é
algo que deve ser repensado. “Quando alguém fala em estupro, a
primeira coisa que se pergunta é: ‘Mas o que ela estava vestindo,
onde ela estava, que horas eram?’” dizia Lola Aronovich na mesma
edição da TPM. É disso que trata a Marcha das Vadias – da
reafirmação do direito das mulheres em serem livres sem que isso
lhe traga
julgamentos ou violências. O nome choca?
Sim, mas a violência contra a mulher deveria chocar muito mais.
Estamos
num momento em que se torna cada vez mais difícil aceitar qualquer
tipo de abuso ou machismo. Superar certos comportamentos, vistos como
naturais, estão na pauta do dia. A marcha por si só não vai
transformar a sociedade, mas já vem estimulando um debate sobre o
assunto, movimentando as mídias
sociais, as conversas nas faculdades. Isso
já é um passo significativo para mudanças reais.
Por isso,
nesta sexta, dia 1º, mulheres de todas as idades (e também os
homens conscientes de seu papel nessa luta) estarão marchando,
vadiando pelas ruas de Aracaju. Mostrando que se ser vadia é ser
livre, somos todas vadias.
O que :
Marcha das Vadias – Aracaju /SE
Onde: Praça
da Catedral as 14h
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