terça-feira, 6 de abril de 2010

Glauco, preconceito e desinformação

Passei algumas semanas tentando escrever sobre o caso Glauco. Na verdade queria escrever sobre a forma preconceituosa que o assunto foi tratado por alguns veículos da mídia. Como já se passaram algumas semanas e não sou um profundo conhecedor das religiões de origem amazônica, fui descobrindo em   outros blogs e sites textos que abordaram o assunto com bastante desenvoltura.
Um dos que mais gostei foi do Digestivo Cultural , escrito pelo  Gian Danton ( Glauco: Culpado ou Inocente) . Acho que ele tocou em pontos importantes, principalmente da questão em transformar o assassino em vitima e torna culpado o chá de ayahuasca.

"A linha da defesa é que Cadu era um garoto feliz e carinhoso, que nunca revelou sinais de violência antes de começar a frequentar a igreja Céu de Maria, dirigida por Glauco. Depois desse episódio, ele teria se transformado em um monstro, um louco, que rezava para as plantas e não dizia coisa com coisa. O máximo que o pai do assassino, certamente orientado pelo advogado, admite sobre o filho é que, antes de Cadu ter contato com o chá do Santo Daime, ele era indeciso sobre a profissão que iria seguir. Fora isso, era um santo. O fato dele ser usuário de drogas, ter passagem pela polícia por tráfico, ter abandonado três cursos universitários e não ter qualquer ocupação não impede a defesa de pintá-lo como santo que virou demônio depois de entrar para a igreja dirigida por Glauco. Essa versão da história foi comprada pela TV Record e pela Veja."
 Não acho que eles simplesmente compraram a idéia da defesa , pela linha editorial da Veja e da rede Record não me surpreende o tom preconceituoso de suas matérias. Em outros casos em que o assunto foi drogas, ambas já se utilizaram de um debate vazio e superficial.
Outro texto bem interessante foi o do Carlos Minuano ( Daime Expiatório) :

“Pessoas que não conhecem os efeitos deste chá e seus rituais imaginam se tratar de mais uma droga”, observa o médico-psiquiatra Wilson Gonzaga, integrante do grupo multidisciplinar do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), responsável pela resolução que regulamenta o uso da ayahuasca no Brasil.
 Um ponto central a ser esclarecido, segundo Gonzaga, é que a criticada liberação do uso religioso da ayahuasca, em janeiro deste ano, é resultado de um processo de mais de duas décadas que atravessou diversos governos e foi objeto de estudo de importantes cientistas, nacionais e internacionais, nas áreas da psiquiatria, medicina e antropologia. “Para se chegar a esta aprovação foram necessários anos de pesquisas, é ingênuo dizer que o governo foi imprudente, políticos podem ser levianos, mas o Estado não é”, afirma o médico, que participou de todo o processo de legalização e regulamentação do uso da bebida amazônica.
 (...) " Os ataques ao culto do Santo Daime e ao uso religioso da ayahuasca também são movidos por grupos que se opõem à recente regulamentação aprovada em nível federal. “Decisão embasada entre outros fatores, no direito à expressão religiosa”, defende Xavier. “Não se pode negar as religiões”, acrescenta o antropólogo Edward MacRae, representante do Ministério da Cultura no Conad e fundador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip). O antropólogo defende o diálogo. Caminho tomado pela União e que desembocou na atual regulamentação da ayahuasca. "


 Houveram outros textos dignos de nota, que tratam o assunto com seriedade e de forma que tentasse esclarecer  e não fazer estereótipos pessoas ou hábitos religiosos, mas me faltaria espaço e tempo. Enfim enquanto certos setores da sociedade ainda tratarem com hipocrisia determinados assuntos ( drogas, aborto, violência...), dificilmente avançaremos nossa "democracia."